Principais Trabalhos
Café Quente em Noite Fria ou o Ensaio Sobre a Lenda do Ouro Verde
“Café Quente em Noite Fria ou a lenda do ouro
verde” re-conta no palco o episódio da “Grande Geada Negra” de 1975, acontecimento que marca
profundamente a história recente do PR (principalmente no Norte do Estado) em
seus aspectos culturais, sociais e econômicos, modificando radicalmente a
maneira de ser e agir de um povo. Mais
do que celebrar a história, a peça propõe uma reflexão sobre a mesma. Partindo
do ponto de vista do pequeno agricultor o espetáculo questiona: “De onde viemos? Para aonde Vamos? E que
tempo Histórico é nosso presente? É finalidade principal desta proposta
dialogar com os protagonistas reais desta história (Agricultores e
ex-agricultores, moradores das regiões periféricas das cidades, comerciários,
pioneiros, etc), para que possam ser ampliados os espaços de memória coletiva e
suas significações.
1- Justificativa
Café Quente em Noite Fria OU A
LENDA DO OURO VERDE” re-conta no palco o episódio da
“Grande Geada Negra” de 1975, acontecimento que marca profundamente a história
recente de Londrina em seus aspectos culturais, sociais e econômicos. Contudo, mais
do que celebrar a história recente da cidade, o espetáculo propõe uma reflexão
sobre a mesma, analisando perspectivas diversas e possibilitando leituras diferenciadas.
A Geada Negra de 1975 erradicou a
cafeicultura no Estado do Paraná. Naquela ocasião muitos não tiveram
discernimento da amplitude dos problemas causados e das conseqüências que
seriam geradas por esta geada, talvez ainda hoje muitos ainda não tenham essa
compreensão.
Revistas e jornais daqueles dias mostram o
frio europeu que atingiu o sul do Brasil. Em Curitiba ainda se relembra e
comemora a neve daquela ocasião. No norte, onde o café era a principal
atividade econômica, o frio intenso assumiu ares de tragédia, não sobrou espaço
para lembranças alegres. Haviam ocorrido geadas fortes em 1963, 1964 e 1966,
prenúncios da maior de todas. No dia seguinte, a Folha afirmava que os
cafeicultores estavam de luto, mas os órfãos, a história mostra isso, era a
população do Norte, em especial os colonos, os pequenos proprietários, os
comerciantes, as cidades, todos aqueles que se relacionavam direta ou
indiretamente com a cafeicultura. Foram todos atingidos em seu modo e no seu
estilo de vida, tivemos de reaprender a viver.
Com as lavouras destruídas era preciso
recuperar os prejuízos. As terras eram caras, precisavam continuar lucrativas,
plantou-se soja, trigo e milho, principalmente. A mão-de-obra necessária era a
mínima possível para as novas atividades. As colônias das fazendas começaram a
se desfazer, os não proprietários passaram a se fixar nas cidades da região,
muitos viraram bóias-frias. Londrina era sempre a melhor opção, surgiram
bairros imensos, grandes conjuntos habitacionais como o “Cincão” em Londrina. Outros
foram para Curitiba e São Paulo. Próximo a Campinas, existem bairros inteiros
habitados por gente que se orgulha e chora de saudade, por ser do Paraná. Para
aqueles que já eram proprietários, optaram em vender o que possuíam e comprar
novas terras em regiões livres do frio, assim hordas de paranaenses rumaram a
Mato Grosso, Rondônia e Acre. Rapidamente Rondônia virou um Estado, Mato Grosso
virou dois; e em Mato
Grosso do norte estão muitos dos nossos antigos vizinhos.
Dizem que foi o maior fluxo migratório em
tempos de paz, o êxodo rural norte-paranaense retirou do Estado quase 2,5
milhões de pessoas na década de setenta e 1,6 milhão na década de oitenta,
segundo dados do IBGE. Não é surpresa, cidades da região perderem lugar no
ranking das mais populosas da região Sul.
Talvez tenha sido a Geada Negra de 1975, o
maior golpe da história na economia e na sociedade do Paraná, um acontecimento
que precisa ser estudado, explicadas as suas conseqüências.
Um
ponto de Vista sobre a História – Narrando a Noite Fria
Partido do ponto de vista do pequeno agricultor o espetáculo questiona:
“De onde viemos? Para aonde Vamos? E que
tempo Histórico é nosso presente? É finalidade principal desta proposta
dialogar com os protagonistas reais desta história (pequenos agricultores e
ex-agricultores, moradores das regiões periféricas, pequenos comerciários,
pioneiros, etc), para que possam ser ampliados os espaços de memória coletiva e
suas significações. Se cabe a arte um papel neste contexto é o de propiciar um
espaço em que as falas daqueles que foram
oprimidos, (social, cultural e economicamente) possam saltar do mundo dos mortos e contar outra história, em detrimento a
história oficial de triunfo e superação que cerca os acontecimentos
relacionados à Grande Geada Negra. Desta maneira, em um dialogo direto com o
público, o espetáculo propõe um processo coletivo de “articular historicamente
o passado”, nos dizeres de Walter Benjamin .
Mas este “articular historicamente o
passado”, não significa conhecê-lo como ele de fato foi. Significa apropriar-se
de uma reminiscência, tal como ela “relampeja no momento de um perigo.” E o
perigo relampeja – no caso dos pequenos agricultores e do inúmero contingente
que fora obrigado a ocupar as periferias da cidade – ainda próximo de nós. Os
tempos de trabalho na lavoura do café estão sendo apropriados pelos novos
tempos e começam a desaparecer por entre as malhas da história oficial. Do
fragmento da lembrança de trabalho do inicio da década de 70, justamente deste
fragmento, o discurso do “progresso irremediável”, e da “superação do (s)
Grande(s) homem (ns)”, quer inaugurar o primeiro marco de sua história,
relegando ao esquecimento a história coletiva do homem comum.
Desta
forma, o espetáculo “Café Quente em Noite Fria.. .” busca resgatar um processo de “rememoração”
(Eingedenken) que serve para caracterizar o trabalho de salvação (Rettung,apokatastasis)
do passado através de sua atualização. Processo este que não visa recuperar uma
experiência que, em sentido forte, está perdida para a modernidade, mas produzir
uma experiência em que seja possível ao homem a apropriação da atualidade,
conjugando elementos de uma percepção do tempo e do passado individual e
coletivo. O espetáculo assume assim, ainda sob as perspectivas de W. Benjamin a
função de “Narrador sucateiro”.
Este “narrador sucateiro” não tem por alvo
recolher os grandes feitos. Deve muito mais apanhar tudo aquilo que é deixado
de lado como algo que não tem significação, algo que parece não ter nem
importância nem sentido, algo com que a história oficial não sabe o que fazer.
O que são esses elementos de sobra do discurso histórico? Em primeiro lugar o
sofrimento, o sofrimento indizível que a Geada Negra de 1975 provou material e
subjetivamente na população campesina Paranaense – tanto daqueles que aqui
ficaram, como daqueles que partiram para terras distantes. Em segundo lugar,
aquilo que não tem nome, aqueles que não têm nome, o anônimo, aquilo que não
deixa nenhum rastro, aquilo que foi tão bem apagado que mesmo a memória de sua
existência não subsiste, aqueles que desapareceram por tão completo que ninguém
se lembra de seu nome. Ou ainda: transmitir o que a tradição, oficial ou
dominante, justamente não recorda. Esta tarefa paradoxal consiste, então, na
transmissão do inenarrável, numa fidelidade ao passado e aos mortos mesmo -
principalmente - quando não conhecemos nem seu nome nem seu sentido.
Outra
perspectiva deste Projeto é contribuir para formação da consciência histórica
dos espectadores ao vivenciarem novas práticas estéticas. De acordo com RUSSEM
(1992): “a consciência histórica é um pré-requisito necessário para a
orientação em uma situação presente que demanda a ação”. Dessa forma, os
fatos do passado são abordados objetivando esclarecer o presente e conferir uma
expectativa futura.
A
partir de relatos de ex-agricultores, por exemplo, podemos descobrir não apenas
as continuidades como também as rupturas. Essas são significativas quando nos
damos conta que o passado não é um tempo morto, esquecido, mas vivo e atual.
Eles não contem apenas o limite do que aconteceu, mas pode anunciar uma
possibilidade de vir a ser.
Ao
falar e ouvir, narrar experiência de vida, referir-se ao tempo, as pessoas tem
a chance de, humanizar-se deixando de ser objetos para ser sujeitos de sua
própria história.
Do
Espetáculo
O Espetáculo “Café Quente em
Noite Fria ou A Lenda do Ouro Verde” ambienta-se no
período da grande Geada Negra, que se abateu sobre norte do PR em 1975 e a
migração para as Terras da Amazônia em 1976, mostrando respectivamente fim e
re-inicio de uma mesma lenda, a do “Ouro Verde”.
A peça narra fragmentos das Histórias de Zé
Alcino e Betina. Ele pequeno proprietário de terras, que vê sua pequena
plantação queimada pela geada, obrigado mais uma vez a partir para terras mais
distantes em busca de sua subsistência. Ela, Jovem camponesa, que se vê
obrigada a deixar o sitio de seus pais e procurar ocupação na cidade. A partir
da ótica destes dois personagens, o espetáculo procura analisar os motivos (e a
geada foi apenas mais um dentre tantos), que levaram os lavradores do Sul a se
tornarem os colonos do Norte: a mecanização da agricultura, o movimento de
proletarização do campo, a expulsão das terras, e outras mais. Inclusive da
busca de um sentido para busca de uma “terra prometida.”
“Café
Quente em Noite Fria.. .”
procura evidenciar sua construção por um jogo teatral claro, com regras
expostas. Trabalha com a relação direta entre atores e público, de uma forma
anti-ilusionista, desprovida de maiores efeitos cenográficos. O espaço da
ficção depende da colaboração imaginária do espectador, é construído como
experiência compartilhada.
O espetáculo é construído a partir das
Técnicas de Teatro Jornal (formuladas
por Augusto Boal), que consiste basicamente na analise e teatralização de
noticias de jornal ou de qualquer outro material não dramático. Para concepção
deste espetáculo, foram utilizadas noticias de jornais da época (1975/6),
principalmente o já extinto Jornal Panorama, capítulos de uma tese de doutorado
“A Lenda do Ouro Verde” da historiadora e socióloga Maria Beatriz Guimarães
Neto, e principalmente relatos de pequenos agricultares que vivenciaram este
período histórico.
Escolhemos uma temática nada neutra
politicamente, da História do PR e, em particular, do Norte do Estado: As
informações históricas vêm a “conta-gotas”, pois nosso interesse não é narrar
ao espectador uma história “tal qual foi” (se é que isto é possível para a
historiografia acadêmica!), mas fazer uma leitura “Épica” de momentos/acontecimentos
significativos da pesquisa feita sobre o determinado acontecimento,
principalmente do ponto de vista dos pequenos trabalhadores do campo, pequenos
proprietários e de comerciantes, que do dia para noite perderam tudo, sendo
“obrigados a se exilarem” em guetos nas periferias das cidades, dando inicio
aos grandes conjuntos habitacionais.
Escolhemos o ponto de vista daqueles que até
hoje sofrem as conseqüências sociais e econômicas da geada negra, em detrimento
à visão oficial da História de que a Geada 1975 foi o “grande impulso” que
faltava pela mecanização da agricultura no Paraná e também um dos motivos do
rápido crescimento de Londrina, que se transformaria nas décadas seguintes num
dos mais importantes municípios do Sul do Brasil.
“Café Quente em Noite Fria.. .” é a
história de nossos avôs e nossos pais. Daqueles que aqui ficaram e daqueles que
partiram para desbravar novos horizontes. É uma história que precisa ser
re-contada.
Dinâmica
do Espetáculo
O
Ensaio sobre o Café
A peça “Café quente em noite em Fria...”
antes de tudo apresenta-se como um ensaio, algo ainda a ser construído entre
atores e a platéia. A cena apresenta-se como um grande roteiro a ser lido, em
que acontecimentos, ritmos e relações antecedem propriamente a arquitetura
teatral. Percurso que só pode ser percorrido com uma colaboração ativa do
espectador. Por isso o espetáculo apresenta–se “incompleto”. Mostrando imagens
de uma realidade social passível de ser transformada.
Após os 8 fragmentos apresentados à platéia,
o 9° é construído coletivamente, através de um debate franco entre atores e
espectadores sobre a própria dinâmica do espetáculo, suas referências
estéticas, sobre os fatos históricos em si e suas conseqüências socioculturais
– historicidade.
O Objetivo desta dinâmica é dar voz ao
espectador e uma colaboração efetiva na própria construção do espetáculo. Por
isso, nenhuma apresentação é igual à outra: exatamente por que as criticas, os
pareceres, os apontamentos dos espectadores são sempre dialetizados e incorporados
pelo elenco de alguma forma no espetáculo. Um processo de re-fazer contínuo da
própria “realidade da imagem” – A peça em si – e da realidade concreta – a
nossa própria história. Por isso o 9° Fragmento, mais do que uma troca de
idéias é uma etapa de Construção Coletiva de uma experiência de vida melhor,
tanto para atores, como para espectadores. Uma Experiência Estética, que ecoa
na cotidianidade de cada um.
Ensaio aberto
- Janeiro 2009: O espetáculo começa a ser
ensaiado pelo grupo e é iniciado o processo de coleta de depoimentos. Os
ensaios prosseguem durante os meses de fevereiro e março de 2009.
- Março 2009: No dia 26 de março é realizado
ensaio aberto para público convidado, que conhecem a história da cidade,
no teatro Zaqueu de Melo. Onde se realizou coleta de dados e registros do
público.
- Abril 2009: No dia 09 de abril é realizado
ensaio aberto para público convidado, na Vila Cultural Casa do Teatro do
Oprimido, já com as novas adaptações.
- Abril
2009: No dia 16
de abril é realizada apresentação para gravação com público convidado, no
teatro Zaqueu de Melo.
- Maio 2009: No dia 29 de maio: estréia do
espetáculo “Café Quente em Noite Fria”, em londrina-PR, no teatro Zaqueu
de Melo, que segue
- Junho de 2009: Apresenta-se no Festival
Internacional de Londrina (FILO), na Sala de Espetáculos do SESC Londrina.
- Outubro 2009: apresenta-se no Festival
Nacional de Teatro de Campo Mourão –PR, onde ganha o Prêmio especial do
júri em “Pesquisa Musical”, além de receber outras três indicações: Melhor
texto e melhor atriz.
- Outubro: Realiza temporada “Jornada SESC
de Artes Cênicas” (28, 29 e 30)
- Novembro 2009 – É contemplada com o Prêmio
Nacional Funarte de Teatro Myriam Muniz, onde circulou por 5 cidades do
PR. (Curitiba, Londrina, Maringá, Apucarana e Campo Mourão)
- Dezembro 2009: Realizada temporada no Museu
histórico de Londrina –PR, e no centro cultural Lupércio Luppi, nas
comemorações do aniversário da cidade.
- 2010.
- Março de 2010- 05 a 20. Realiza temporada no SESC Londrina, através da “jornada SESC de Artes Cênicas”.
- Abril à dezembro - Circulação pelas cidades de Curitiba, Londrina, Maringá, Apucarana e Campo Mourão)
- 2011
- Participação na MOSTRA LATINO-AMERICANA DE TEATRO DE GRUPO em São Paulo - SP. (26 de abril a 1 de maio)