O Grupo
Formado em 1999, por atores e agentes culturais de Londrina,o Grupo CAOS E ACASO DE TEATRO sempre teve como meta desenvolver uma prática artística vinculada aos interesses da maioria da população. Entre os anos de 2002 e 2003, o grupo realizava um estudo sistemático sobre o tema “Teatro, Sociedade e Política” e a montagem de “peças-processo”, onde buscava desenvolver uma linguagem teatral que não só refletisse sobre a realidade social, mas pudesse, igualmente, propor alternativas para transformá-la. Como fruto deste projeto o Grupo monta uma re-leitura do espetáculo Cênico Musical “Liberdade, Liberdade”, (de 1965), um clássico da dramaturgia brasileira, com texto de Millôr Fernandes e Flávio Rangel, obra tentou traduzir o inconformismo da nação perante o arbítrio e a repressão do regime, inaugurando um estilo de espetáculo que viria a ser chamado “teatro de resistência". E “Out Cry Strindberg”, uma adaptação de Roberto Sales a partir de textos do dramaturgo sueco August Strindberg, objetivando propor uma discussão sobre as relações de poder na vida social.
Buscando formas teatrais que dialogassem diretamente com a realidade social e política do Brasil, as pesquisas do grupo Caos e Acaso de Teatro logo se voltaram para o trabalho do dramaturgo e diretor teatral brasileiro Augusto Boal e sua metodologia do Teatro do Oprimido (TO).
Em 2004, o grupo começa a desenvolver o projeto chamado “Teatro e Transformação Social”, que tinha como meta a formação de grupos populares de Teatro do Oprimido na cidade de Londrina. Como resultado imediato surgiram 4 grupos de Teatro do Oprimido nas periferias da cidade, formado por estudantes secundaristas e mulheres vitimas de violência doméstica. No ano de 2005 o projeto continuou e os grupos se multiplicaram. Nasce então a Fábrica de Teatro do Oprimido (FTO), enquanto uma organização não governamental que tem como missão articular e fomentar estes grupos populares de teatro, como também criar novos espaços de circulação cultural.
Através da FTO, o Grupo Caos e Acaso pode realizar um amplo processo de produção e difusão cultural na cidade de Londrina, realizando projetos importantes como a Mostra Nacional de Teatro Popular, que se manteve ininterrupta durante 9 edições, O projeto Vila Cultural Casa do Teatro do Oprimido, espaço multidisciplinar que abrigava oficinas multiculturais e projeto Teatro do Oprimido nas Escolas que atuava na capacitação de professores, visando democratizar as linguagens cênicas dentro do ambiente escolar auxiliando no debate entre professore e alunos.
Já no ano de 2008, tanto os grupos populares ligados a FTO como o próprio grupo Caos e Acaso começam a se aproximar, através de seus processos, das perspectivas de Bertolt Brecht, passando a se dedicar ao estudo dos pressupostos do Teatro Dialético, tentando ampliar os campos, onde espectadores e atores participam, ativa e conjuntamente, na produção de um conhecimento histórico-cultural dos temas e problemas abordados pelas peças-processos produzidas pelo o grupo.
A partir desta pesquisa o Grupo estréia em 2009 o espetáculo Cênico- Musical “Café Quente em Noite Fria ou o Ensaio sobre a Lenda do Ouro Verde” ambienta-se no período da grande Geada Negra, que se abateu sobre norte do PR em 1975 e a migração para as Terras da Amazônia em 1976, mostrando respectivamente fim e re-inicio de uma mesma lenda, a do “Ouro Verde”. A peça narra fragmentos das Histórias de Zé Alcino e Betina. Ele pequeno proprietário de terras, que vê sua pequena plantação queimada pela geada, obrigado mais uma vez a partir para terras mais distantes em busca de sua subsistência. Ela, Jovem camponesa, que se vê obrigada a deixar o sitio de seus pais e procurar ocupação na cidade. A partir da ótica destes dois personagens, o espetáculo procura analisar os motivos (e a geada foi apenas mais um dentre tantos), que levaram os lavradores do Sul a se tornarem os colonos do Norte: a mecanização da agricultura, o movimento de proletarização do campo, a expulsão das terras, e outras mais. Inclusive da busca de um sentido para busca de uma “terra prometida”.
Desta maneira, o Grupo vem buscando construir sua perspectiva de Teatro Popular enquanto espaço estético. Um teatro pensado como forma de sensibilização, criação e discussão de dimensões sócio-culturais, ético – políticos e existenciais, com ferramentas estéticas revigoradas: aprofundando a reflexão sobre a produção teatral, linguagem, gêneros, formatos de espetáculos e a comunicabilidade dos códigos utilizados na situação da formação de público, o estudo da arena e da rua como espaços de espetáculos.